domingo, 26 de agosto de 2012

Nota sobre a Imigração Japonesa no RS e sua cultura.




A imigração japonesa no Brasil tem 104 anos (1908 - 2012), no Rio Grande do Sul tem 56 anos (1956 – 2012). Muitos dos primeiros imigrantes japoneses de São Paulo já morreram, a colonia de paulista é de filhos, netos e bisnetos de japoneses, passaram por grandes sacrifícios para se adaptarem a cultura brasileira e criaram uma cultura própria. Aqui no Rio Grande do Sul a colonia é formada por japoneses, filhos japoneses e agora estamos na terceira geração de netos(sansei), tambem aqui temos alguns descendentes vindos das colonias do Paraná e São Paulo, nos últimos anos um grupo de jovens do Japão que vieram para intercambio nas universidades do RS e alguns empresário a negócio (ex. Funcionários da Toyota em Guaíba).


Um dos navios que trouxeram os imigrantes japoneses ao RS*** , 
este é o navio Brasil Maru (ブラジル丸 - Burajiru Maru).


Diferente da imigração ocorrida em São Paulo no inicio do sec. XX, em que os japoneses foram largados nas lavouras de café a mercê dos grandes barões do café e sem a mínima estrutura, na imigração japonesas no sul do Brasil o próprio governo japonês procurou dar apoio para que os japoneses podessem se estabelecer no estado, inclusive ajudando no financiamento das terras que ocupariam (o que não quer dizer que não passaram tambem por algumas dificuldades*). Outro aspecto importante é que os japoneses que vieram para o RS, diferente de SP**, vieram com a intenção de ficar, de estabelecer raízes, pois a situação do Japão no pós guerra era muito complicada, situação esta que perdurou até a década de 70 após o chamado "milagre japonês" na industria. Muitos dos japoneses que emigraram para o estado tinham formação técnica, isto era um pré-requisito. As colonias japonesas do Rio Grande do Sul, a principio, se concentravam nos seguintes núcleos, colonia de Itati (Terras de Areia), Ivoti, Itapuã (sul de Viamão) e em Porto Alegre (bairros Belem Velho****, Vila Nova e Lami).


 A Colonia japonesa aqui no RS tambem passou por um processo de adaptação cultural que é diferente da de São Paulo, pois aqui a colonia é mais recente e os japoneses que vieram para cá são os do Japão da década de 50 e 60 (sec. XX), é do pós guerra, diferente dos imigrantes de SP em que os primeiros vieram no inicio do seculo XX, antes da segunda guerra. Alguns destes japoneses que vieram pra cá traziam na alma as cicatrizes da guerra, mais um motivo para criarem raízes aqui. Em cada leva de imigrantes vindas em épocas diferentes, este japoneses trouxeram a cultura que era vigente no Japão na época que vieram. Enquanto isto no Japão a cultura se modernizava, tanto que hoje a cultura japonesa dos nipo-brasileiros é diferente da dos japoneses que atualmente vivem no Japão.

Surgiram associações nipo-brasileiras no estado (ANIBRA, após NIKKEI-RS) a onde os membros da colonia se encontravam para a realização de eventos e atividades culturais, entre elas, undokais, festas juninas, concursos de karaoke, e concurso do Miss Nikkei-RS, ensino da linha japonesa, etc. Infelizmente a colonia japonesa no Rio Grande do Sul deu uma diluída na década de 90 por causa do movimento dekasegui. Porem agora vejo um resurgimento das atividades de japoneses aqui no estado, com muito incentivo de não descendentes que admiram a cultura e querem ter contato com ela. Um exemplo é o evento que ocorreu de 18 à 19 de agosto (2012) o Nihon Matsuri organizado pela Associação Cultura Japonesa de Porto Alegre. *****

Contribuição para o RS:

A contribuição mais significativa esta na área agrícola, na implantação de novas técnicas de cultivo, novas tecnologias, a introdução de novas culturas *****. Também introduziram o hábito do consumo cotidiano de hortifrutigranjeiros aos gaúchos. Sim aquela saladinha de tomate com alface no tal do salchipão, não seria hábito dos gaúchos se os japoneses não plantassem o tomate e não abrissem suas quitandas. Algumas contribuições no comercio (lavanderias, quitandas, floriculturas, etc), na industria (Kurashiki em Sapucaia do Sul e atualmente a Toiyota em Guaíba), etc.

Encontrei na internet este documentário sobre a imigração japonesa no Brasil. Achei muito interessante e me identifiquei muito com ele. Para quem quer conhecer um pouco mais desta epopeia, recomendo. São seis vídeos, este é o link para o primeiro.





Neste outro link você pode ver os 6 vídeos diretos:

O Brasil do Sol Nascente - 02
O Brasil do Sol Nascente - 04

O Brasil do Sol Nascente - 05

O Brasil do Sol Nascente - 06


Ficha técnica do Vídeo.:

  • O Brasil do Sol Nascente: A História da Imigração Japonesa para o Brasil 

    2003, Documentário, 52 minutos, Beta digital
    Direção: Ricardo Aidar e Marcelo Bresser Pereira
    Produção Executiva: Ricardo Aidar
    Realização: Canal Azul
    Um retrato sobre a história da Imigração Japonesa para o Brasil. O documentário é construído a partir de entrevistas com imigrantes japoneses e seus descendentes e ilustrado com imagens históricas. As narrativas pessoais são entrecortadas por depoimentos de especialistas, que analisam e contextualizam estes casos dentro da história. Também são abordadas as transformações na vida dos nipo-brasileiros neste período e a interação entre as culturas brasileira e japonesa.

* Os japonese aqui no RS tiveram sim algumas dificuldade, a primeira foi cultural, esta é inevitável. Outra foram os empregos a que alguns japoneses se submeteram em algumas granjas aqui no estado, por exemplo, meu pai no inicio não ganhava muito e trabalhava muito. Outra, alguns terrenos ocupados por japoneses aqui no estado não eram bons, eram o resto do resto daquilo que nem os alemães e italianos quiseram. Se não fosse a qualidade da formação técnica que alguns japoneses trouxeram, certamente não treriam prosperado.

** Os imigrantes japoneses que no inicio do sec. XX se estabeleceram em São Paulo, não tinham a intenção de ficar no Brasil. Há princípio eles tinha a intenção somente de vir trabalhar um tempo no Brasil, fazer um pé de meia, e voltar para o Japão. Mas após o Japão perder a segunda guerra e pelo fato de com o tempo se adaptarem ao novo país o sonho de voltar ficou cada vez mais distante.

*** - Em 18 de agosto de 1956, o Rio Grande do Sul recebeu os primeiros 23 imigrantes japoneses que chegaram ao porto de Rio Grande a bordo do navio Brasil Maru. Vieram para trabalhar principalmente na agricultura.
- Chegam no dia 15 de março de 1957 imigrantes japoneses com destino ao Rio Grande do Sul. As 33 famílias (198 pessoas) desembarcam do navio Africa-maru, se assentam na Colônia São Pedro — próxima da fronteira com a Argentina — e passam a produzir arroz.

**** Em Belem Velho temos estradas batizadas com nomes de famílias japonesas, ex: Estr. Kanasawa, Rua Watanabe,). Tambem existe um lugar no bairro Protásio Alves apelidado de Chacara do Japonês a onde residia uma família de japoneses.

***** De 21 à 22 de abril (2012) ocorreu o Hanamatsuri organizados pelos grupos budistas atuantes em Porto Alegre (Zen Budismo e Budismo Tibetano), este evento tambem foi ótimo pois a comunidade japonesa pode se reunir e interagir.

***** Muitas novas culturas foram trazidas pelo colonos japoneses, novas qualidades de hortaliças (nabo, couve chinesa, etc), novas qualidades de frutas (kiwi, morangos, ameixas, caqui, etc). Por exemplo, a tal maçã fuji e certas qualidades de uva de mesa, foram trazidas para o RS pelos japoneses. A cultura do Kiwi por exemplo, foi tão bem vindo que até mesmo as colonias Italianas e Alemãs aderiram a ela. Posso dizer que fui uma das primeiras a ver e provar um Kiwi aqui no estado, lembro de ver a fruta pela primeira vez nas mãos de uma amigo de meu pai agricultor de Ivoti, na época eles ainda estavam introduzindo a cultura aqui no estado, experimentando pra ver se era viável.

3 comentários:

  1. Vendo algumas postagens do Facebook que alguns me enviam (principalmente do meio marcial) que remontam a cultura japonesa, diante de algumas coisas que compartilhei sobre a cultura tambem no facebook, pude reforçar uma conclusão que já tinha chegado sobre a visão de alguns karatekas (não são todos) tem a respeito da cultura japonesa. Alguns tem uma visão completamente distorcida, mítica da cultura.

    Quase que diariamente compartilho algo relacionado a cultura japonesa, mas me detenho de compartilhar assuntos que considero velhos clichês, como por exemplo, samurai, ninjas, gueixas, enfim, todo este material que considero mito. Não que estes assuntos não façam parte da cultura japonesa, fazem, mas é apenas 10% da cultura japonesa. E se é para compartilhar o que todo mundo compartilha, então porque eu tenho que compartilhar? Já tem gente para compartilhar por mim, que compartilhem.

    O que me chama a atenção é que para muitos é mais fácil realmente compartilhar os velhos clichês de sempre, olhar e curtir os velhos clichês de sempre. Mas tambem me pergunto: Mas se gostam tanto de coisas relacionadas com cultura japonesa, porque sequer olham para as coisas que coloco relacionadas a cultura, sendo que estas realmente fazem parte do cotidiano de pessoas que estão intimamente ligadas a ela?

    Resposta simples:

    O irreal, o mito, é mais interessante, os velhos clichês são mais interessantes do que a verdade. Afinal de contas, se faz tanta força, se gasta tanta energia para acreditar nisso, não é mesmo? Se faz tanto para criar um castelo de ilusões...

    Isto me aborrece um tanto pois são justamente estas pessoas de visão distorcida e equivocada que aparecem querendo sugar conhecimento de mim, e são estas mesmas pessoas que por se acharem conhecedoras (de mito) é que vem me julgar por conhecer ou desconhecer aspectos da cultura japonesa. Se eu me aproximasse de uma pessoa que desde que se conhece por gente convive com membros de uma cultura, simplesmente não me meteria de pato a ganso sobre o conhecimento que esta tem de sua cultura, mesmo sendo grande conhecedor.

    ResponderExcluir
  2. Infelizmente no karate já encontrei uma porção de gente assim. Alias pessoas assim já inclusive deram o ar da graça aqui no blog. Isto é muito desgastante, parece que tenho ficar todo tempo provando minha japonitude para esta gente, sendo que eu sou meia japonesa, vivo no Brasil e sou tanto japonesa como brasileira, sendo que o próprio Japão de hoje é tão ou mais americanizado que o Brasil. E quando me livro de um aparece outro.

    Outro dia eu li num forum qualquer por ai um falando: Procurei um Japonês ai, encontrei, mas ele não era japonês, era um pseudo-japonês nascido no Brasil, não sabe nada do Japão, é japones falsificado. Que estranho, agora todos que tem olho puxado tem a obrigação de serem japoneses 24h por dia? Quer “japonês” vai pro Japão então. É irritante ser descendente e ter perto de ti criaturas que sequer tiveram contato com a cultura japonesa te azucrinando te dizendo o que é cultura japonesa ou não, te questionando o tempo todo, dizendo que japonês não é assim ou assado. Estas pessoas nunca souberam o que é passar a virada do ano ao som de Enka com a japonesada saudosa cantando emocionada, nunca participaram de undokais, nunca comeram sukiyaki com a família em volta da mesa, fazem cara de nojo quando falo de doce de feijão (manju), debocham quando veêm lutadores de sumo e sequer assistiram uma luta desta modalidade entre os membros da colonia, não sabem o que é passar pelo dilema do movimento dekasegui. E ainda vem me dar o ar da graça me dizendo que não sei sobre cultura japonesa, talvez em não saiba mesmo, não da cultura mitificada que polula na cabeça de uns por ai.

    O descendente japonês brasileiro tem uma cultura diferente do japonês que vive no Japão, pois tiveram que adaptar sua cultura para viverem no Brasil.

    Entendeu porque não sou obrigada a ser japonesa 24h por dia e 365 dias por ano?

    E esta cultura que acabei de citar não tem nada a haver com a cultura mitificada, dita japonesa, que uns ai acham no direito de arrotarem como legitima só porque praticam uma arte-marcial!!!!

    ResponderExcluir
  3. Muito legal tua nota. Já havia procurado mas não conhecia muito da imigração pra cá no RS, apenas das colônias de Ivoti e zona sul de Porto Alegre. Tenho orgulho da nossa origem nipo-brasileira. Um abraço.

    ResponderExcluir

Comentários aqui são moderados, pois nem todos os comentaristas se comportam como deveriam, com respeito.
Correções, críticas, sugestões são muito bem vindas, mas desde que feitas com respeito, caso o contrário, nem serão aceitos.
Obrigado por comentar.